quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Vida e Sociedade

Ontem na estreia do curso de Monitoramento Estratégico Competitivo da FIA, o palestrante foi o professor João Zuffo da Poli/USP. Ele discutiu sobre a evolução da Tecnologia de Informação e seu impacto na sociedade. Ele tem uma visão de futuro, fazendo estimativas para 20 a 30 anos. Na verdade a expectativa de mudança de comportamentos da sociedade é muito grande. A robótica vai avançar e a inteligência artificial também (até agora ela decepcionou). Cada vez mais os produtos vão custar mais barato e as pessoas trabalharão menos (ainda não é o caso ao menos para os brasilis). Mas há uma perspectiva de maior tempo disponível para as pessoas fazerem lazer. As pessoas estarão mais voltadas a produzir arte e conteúdo, a criar do que a produzir itens repetitivos. Estes serão feitos por máquinas. O que custará caro serão os itens únicos, originais. 

Ele pensa que haverá uma maior disparidade que a atual entre o mundo desenvolvido e o mundo em desenvolvimento. Sua palestra me fez lembrar os filmes Matrix e Minority Report. Na opinião dele não haverá um conflito entre computadores e pessoas como no Matrix. Haverá uma evolução positiva. No entanto o que preocupa é o poder da tecnologia e facilidade de acesso. Como lidar com o mau uso desta tecnologia, do ponto de vista de segurança e sociedade? Outro ponto é a informação e a distinção entre o real e o criado. Ficará mais difícil de distinguir o que é uma notícia real de uma notícia inventada. Fazer inteligência estratégica ficará mais difícil. Processos de contra inteligência poderão ser mais sofisticados. A identificação da fonte da notícia deverá provavelmente ser um ponto essencial para separar a mentira da verdade. Saber que é o autor para saber se confia ou não. Quem sabe até mesmo certificação digital de notícias. Enfim, um mundo diferente. O professor Zuffo tem alguns livros publicados que dão esta visão (A Sociedade e a Economia no Novo Milêncio, editora Manole, 2003). Vale à pena conferir.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Inteligência. Proteger ou abrir?

Sempre há uma discussão sobre as questões de proteção de informação no âmbito dos processos de inteligência. A empresa deve proteger sua informação, orientar seus funcionários a não descuidar dela para não desvendar informação confidencial, privada e estratégica para a empresa. Conforme discutimos no seminário de Alain Juillet, "Haut  responsable chargé de l' inteligence économique" do governo francês, 80, 90% das informações estratégicas, úteis para uma organização, estão disponíveis livremente. É portanto bobagem fazer espionagem. "Por que correr risco fazendo práticas ilegais quando tem tanta informação disponível?" Concordo. Por outro lado, todos, e em particular Sr. Juillet afirma que a empresa deve proteger sua informação para que não saia informação estratégica.

Mas me pergunto. É possível proteger a informação? Além disto é necessário, útil fazê-lo? Talvez possa ser exagero, mas há empresas falando sobre a questão e dizendo que a empresa deve ser aberta. Que não adianta e não precisa tentar por exemplo esconder os esforços de lançamento de um novo produto. Primeiro porque a informação acaba circulando cedo ou tarde. Segundo porque na verdade o que realmente mantêm a empresa não é o produto que ela lançou hoje ou vai lançar amanhã. Mas sua capacidade em gerar continuamente inovação. Copiou, não copiou? A empresa tem que ter constantemente novos produtos e serviços. Existem informações mais críticas. Possível. Mas é preciso pensar em até onde deve ir a paranóia da proteção da informação. Há casos como códigos de acesso, por exemplo a contas correntes, deve-se preservar. Mas ainda aí, não é informação que estamos protegendo, mas sim os recursos financeiros aos quais elas dão acesso. Protegemos o recurso, não a informação. Estou apenas sofismando? Não. Acho que as empresas tem que levar em consideração que em um mundo cada vez mais aberto, com infinitas interfaces, parcerias, concorrentes que são em outros momentos parceiros, o nome do jogo não é proteção de informação, mas cooperação e compartilhamento de informação e constante capacidade de inovação. 

Na verdade coloquei esta questão a  Alain Juillet. Perguntei se faz sentido proteger, uma vez que há tanta informação disponível, há empresas que justamente vão na linha da abertura da informação. Open source, open innovation, cooperação. Ele não entendeu a pergunta. Afirmou que a informação deve ser protegida. Talvez seja o meu francês que não esteja muito bom!



segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Inteligência Competitiva, Econômica, Estratégica, Tecnológica

Outro dia li alguém que escreveu que  Inteligência Competitiva é a mesma coisa que Inteligência Econômica, Inteligência Estratégica ou Inteligência Tecnológica. Que são nomes diferentes para a mesma coisa. Discordo. São quatro preocupações diferentes, que tem focos diferentes. Não vou entrar em detalhes, mas inteligência econômica olha grandes movimentos que podem ter impactos mais amplos, afetando as economias de países, do conjunto de empresas de um país. Deve ser uma preocupação, uma atitude de governo em primeiro lugar, apesar do interesse não se restringir a governos. Inteligência estratégica tem uma visão mais ampla do que Inteligência Competitiva que sempre tendeu a olhar mais precisamente a concorrência e o mercado. Inteligência Tecnológica é um viés da inteligência que busca entender os movimentos tecnológicos e de inovação. É uma síntese. É interessante entrar na discussão em detalhe mas não vou fazê-lo hoje. São práticas com preocupações e objetivos diferentes, complementares em muitos casos, fazendo que organizações e governo entendam e melhor antecipem movimentos que lhes causam impacto.

domingo, 24 de agosto de 2008

Inteligência Econômica e a Petrobrás

Na última terça feira estive em uma palestra com Alain Juillet, "alto funcionário responsável por Inteligência Econômica do governo francês". O conceito de inteligência econômica não é reconhecido aqui no Brasil. Falamos de inteligência competitiva, uma visão mais restrita do ambiente competitivo, visão dos EUA, segundo o próprio Juillet que foca mais em concorrência. Segue a cartilha do Michael Porter. 
Os franceses tem uma visão mais ampla de inteligência. Vai para além do mercado buscando compreender o ambiente macro. Para os governos a necessidade de visão ampla do ambiente é evidente. Até aqui, sem novidades. Mas levar em consideração os conceitos de inteligência econômica significa preocupar-se em como anda a economia internacional e as ações de outros governos e preocupar-se também com as empresas estrangeiras e em como seus movimentos impactam na atividade nacional e nas empresas nacionais. Esse é um aspecto. Um aspecto análogo é preocupar-se com os movimentos das grandes empresas que se tornaram em muitos casos maiores que muitos países. Seus movimentos são críticos. A idéia da inteligência econômica é também haver uma preocupação de governo com os movimentos dessas empresas e como elas afetam o país. De alguma forma pode-se pensar em algo como a preocupação que alguns estão tendo com a Petrobrás, grande e poderosa. Isto é bom ou é ruim? Bom ou ruim para quem? O fato é que há um movimento de criação de uma segunda estatal do petróleo, o que querendo ou não divide o bolo da Petrobrás. Ao menos não deixa ela crescer tanto, divide poder. É uma das maneiras de ver a questão.

Enfin, não só o governo deve olhar o macro ambiente, mas as empresas também. Movimentos fora de seu mercado podem e normalmente afetam o negócio de uma empresa. Há que entendê-los, antecipá-los, agir a tempo, pro-ativamente.