terça-feira, 16 de setembro de 2008

Informação: Proteger ou abrir?

Nesse domingo (14-09-08), foi publicado um artigo no DCI (Diário do comércio indústria) que escrevi sobre uma questão muito discutida hoje em dia, proteção de informação.

Segue reprodução do artigo:

Sempre há uma discussão sobre as questões de proteção de informação no âmbito dos processos de inteligência. A empresa deve proteger sua informação, orientar seus funcionários a não descuidar dela para não desvendar dados confidenciais, privados e estratégicos para a empresa. Conforme discutido no seminário de Alain Juillet - Alto Responsável pela Inteligência Econômica do governo francês - , de 80 a 90% das informações estratégicas úteis para uma organização estão disponíveis livremente.

É, portanto, bobagem fazer espionagem. "Por que correr risco fazendo práticas ilegais quando há tanta informação disponível?" Concordo. Por outro lado, todos, e em particular Sr. Juillet afirma que a empresa deve proteger sua informação para que não se torne pública a  informação estratégica.

Mas me pergunto. É possível proteger a informação? Além disto, é necessário ou útil fazê-lo? Talvez possa ser exagero, mas há empresas falando sobre a questão e dizendo que a empresa deve ser aberta. Que não adianta e não precisa tentar, por exemplo, esconder os esforços de lançamento de um novo produto. Primeiro porque a informação acaba circulando cedo ou tarde. Segundo porque na verdade o que realmente mantém a empresa não é o produto que ela lançou hoje ou vai lançar amanhã, mas sua capacidade em gerar continuamente inovação. A empresa tem que ter constantemente novos produtos e serviços.

Existem informações mais sensíveis, mais críticas. Mas é preciso pensar em até onde deve ir a paranóia da proteção da informação. Há casos como códigos de acesso, por exemplo as contas correntes, devem-se preservar. Ainda neste caso, não é informação que estamos protegendo, mas sim os recursos financeiros aos quais os códigos dão acesso. Protegemos o recurso, não a informação. Estou apenas sofismando? Não. Acho que as empresas têm que levar em consideração que, em um mundo cada vez mais aberto, com infinitas interfaces, parcerias, concorrentes - que são em outros momentos parceiros -, o nome do jogo não é proteção de informação, mas cooperação e compartilhamento de informação e constante capacidade de inovação.

Há empresas que justamente vão na linha da abertura da informação, do conhecimento. Open source, sofware livre, open innovation, cooperação. Abrem suas idéias, promovem a discussão aberta, compartilham suas idéias à busca de obter um produto superior a partir da construção de um conhecimento coletivo. Vou mais além. Proteção a direitos do autor, luta contra a pirataria. Uma luta talvez inglória. No sentido oposto, alguns autores distribuem gratuitamente seus livros. Copiem-no. Paguem para vir me ouvir falar em meus seminários, em minhas apresentações. A banda Calipso, classificada como TecnoBrega, que não ousei ainda ouvir, antes de fazer seus shows em uma cidade, inunda os camelôs com seus discos para serem distribuídos, vendidos baratinho. Encara a venda como elemento promocional para seus shows.

É digno querer defender seus direitos de autor, combater a pirataria, querer cobrar quanto achar que vale o fruto de sua criação. Digno sim. Pirataria é crime. Mas é a melhor estratégia? Minha opinião é que ao entrarmos em uma era onde o nome do jogo é difusão de informação e conhecimento e não proteção, ganha quem o usa bem e não quem o cria ou o detém.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Inteligência Econômica

O termo, o conceito são um tanto quanto estranhos aos profissionais de inteligência no Brasil. O termo foi gerado pelo governo francês em 1994. Em sua definição inicial a inteligência econômica era vista como uma prática de Estado. Hoje envolve uma preocupação que abrange um grupo maior. Em todo caso é "uma preocupação da coletividade, seja Estado, empresas, comunidade, de maneira a promover coletivamente seus interesses" rapport Carayon 2003.

Uma comissão consultiva sobre a constituição de inteligência econômica do governo francês definiu o objetivo da inteligência econômica através de três capacidades:

  • Capacidade de gerir a informação e lhe dar sentido, para produzir conhecimento estratégico ou operacional a fim de esclarecer o estrategista ou tomador de decisão lhe fornecendo informação de boa qualidade, no bom momento  sobre o tema correto.
  • Capacidade de proteger seu patrimônio imaterial (informação, savoir-faire e defesa da imagem)
  • Capacidade de agir sobre o ambiente de maneira pro-ativa.

Finalmente a comissão define inteligência econômica de maneira bastante ampla e expressiva: 
 " é um modo de governança macro e mirco-econômica cujo objeto é o domínio da informação estratégica. Procede da vontade do mais alto nível da entidade que a pratica, qualquer que seja sua natureza ou tamanho: Estado, território, empresa, organização profissional, etc." 

O Estado é visto como organismo promotor e difusor de informação estratégica para as empresas do país, para a coletividade. Trata a informação de maneira aberta, clara e transparente em benefício do todo. A prática de inteligência econômica trata o acesso à informação de maneira ética. Este deve ser um princípio fundamental seja nas atividades de inteligência econômica, inteligência competitiva ou de inteligência estratégica. 

Orgãos como a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) têm se aproximado deste conceito. Tem buscado apoiar as empresas no acompanhamento do ambiente internacional e das oportunidades que esse oferece. Assim todos se beneficiam: as empresas, a sociedade, o país.


Sinais fracos - um caso

Não é fácil interpretar sinais fracos. Um exemplo: Uma determinada transportadora de televisores perdeu receita com seu cliente e não conseguia saber porque. E finalmente descobriu que a razão era o impacto das novas tecnologias de TV em seu negócio. Elas ficaram slim e ocupam menos espaço e o cliente gasta menos com transporte. E a transportadora tem perda de receita. A pergunta seria. Se eu tenho como cliente empresas que produzem TV, sai uma nova tecnologia que reduzirá o tamanho das TV e eu sou uma transportadora. Eu não deveria estar atento aos impactos que trarão esta nova tecnologia no meu negócio?