Alain Juillet, até há alguns meses atrás “Alto Responsável pela Inteligência Econômica do Governo Frances”, participou de um chat a respeito do tema. Transcrevo abaixo algumas de suas observações. Vale dizer que o termo inteligência econômica é aqui utilizado como equivalente a inteligência estratégica, por vezes entendido também como inteligência competitiva. Alain Juillet aborda aspectos e visões importantes do papel da Inteligência Estratégica para o Estado, para as empresas e para o cidadão. Entende que é uma atividade fundamental e em grande desenvolvimento. Alain Juillet abordou em particular o tema formação de profissionais na área de Inteligência. Um número cada vez maior de empresas e seus responsáveis de RH tem se preocupado com a atividade. Destaca que é uma atividade vasta e que é possível identificar nada menos que 12 tipos diferentes de especialização em IE. (Vale aqui abrir um parênteses: algumas organizações e instituições de ensino, pouco informadas a respeito da área, têm dificuldade em perceber a diversidade do tema vêem de maneira pequena o conceito de Inteligência como sendo uma estreita atividade ligada ao monitoramento de mercado, vendo apenas a atividade de monitoramento da concorrência ou algo próximo disto).
Alain Juillet discute sobre formação na área e destaca que o número de especialistas em IE na França é reduzido. Vale dizer o mesmo sobre o Brasil.
Finalizo este texto, citando alguns trechos do relatório oficial do deputado Bernard Carayon, que se preocupa em definir a atividade de Inteligência Estratégica como uma preocupação de Estado. É interessante ler como ele define Inteligência Econômica, seus princípios e seu papel para a economia.
Conversa realizada por chat com Alain Juillet em fevereiro de 2009, (Blog Les Echos).
JeanChristophe : Bom dia Sr. ALAIN JUILLET, durante uma conversa com um executivo da diretoria de RH de um grande grupo frances, posicionado no mercado parisiense, eu o ouvi dizer: “a inteligência econômica não conheço, não faz parte de nossas preocupações”. Como o senhor pensa que pessoas efetuando formações em inteligência econômica e querendo trabalhar em grandes grupos franceses a fim de salvaguardar um patrimônio econômico razoavelmente frágil e abordado por grupos estrangeiros, possam estar motivados a trabalhar neste ramo de atividade, uma vez que outras atividades são mais demandadas?
Alain Juillet : Cada vez mais, responsáveis de RH conhecem o conceito de inteligência econômica, mas ainda há bastante trabalho de sensibilização a fazer. Ainda não é a preocupação de certos grupos, mas já é a preocupação de todos os escritórios de advocacia comercial americanos. Felizmente, muitos grupos de empresas francesas tem esta preocupação.
bob : Na sua opinião, algo mudou de maneira significativa em termos de IE na França depois de 2004? O senhor considera ter recursos necessários para sua atividade? O senhor é capaz de fornecer um exemplo de sucesso obtido recentemente graças ao processo de IE na França? (“aqui faz-se referência a um relatório oficial enviado ao Primeiro Ministro Francês pelo deputado Bernard Carayon. Abaixo resumo as idéias deste relatório).
Alain Juillet : Sim, o fato de introduzir políticas públicas de inteligência econômica (relatório “Bernard Carayon”), fez com que esta atividade ficasse conhecida de muitos dos nossos cidadãos e permitiu o desenvolvimento e utilização das técnicas por um bom número de empresas. Os franceses sabem mais e mais a que estas técnicas dizem respeito. Nossa satisfação vem quando pequenas empresas nos agradecem por termos lhes ajudado a se desenvolver. Exemplos de sucesso vão desde as rendas de Calais ao decreto sobre investimentos estrangeiros que nos fornecem meios negociar.
Pierre-Olivier Dybman : Sou atualmente estudante da Ecole Centrale d'Electronique e gostaria de me especializa em IE, mas surgem muitos obstáculos. Qual formação seguir? Entre a Escola de Guerra Econômica, as faculdades ou um diploma de engenheiro et desenvolver a carreira em direção a IE. O que o senhor faria no meu lugar?
Alain Juillet : IE é uma atividade nova na França. Não é um fenômeno de moda pois a atividade funciona muito bem em outros lugares. O problema é que nós estamos em fase de desenvolvimento do conceito. A não ser as grandes empresas, não o utilizam realmente. O número de especialistas é ainda reduzido, mesmo aumentado a cada ano. Por outro lado existe uma verdadeira demanda por alunos formados em outras áreas que são complementadas por uma formação em IE. É preciso também saber que a mais de 12 especializações identificadas em IE. As escolas adicionam a uma formação geral um complemento específico para se diferenciar. É preciso então escolher sua escola em função de sua especialização.
Relatório Inteligência Econômica, competitividade e coesão social, relatório ao Primeiro Ministro do deputado Bernard Carayon (La Documentation Française, Paris, janvier 2003)
Destaca a atividade de Inteligência Econômica como sendo “uma política pública de competitividade, de segurança econômica, de influência junto a organizações internacionais e de formação. Ela procede por um quadro de leitura original da mundialização que leva em conta o cotidiano, a vida dos mercados, o conjunto de suas regras, os jogos de poder e de influência". A inteligência econômica é uma “política pública de identificação de setores e tecnologias estratégicas, de organização da convergência de interesses entre a esfera pública e a esfera privada”, segundo o deputado. É uma atividade definida por um conteúdo e por um campo de aplicação. O conteúdo visa a segurança econômica. Deve definir atividades que devem ser protegidas e os meios que se deve colocar para este fim. Ela determina como acompanhar as empresas no mercado mundial, como se apoiar sobre as organizações internacionais onde são hoje elaboradas as regras jurídicas e as normas profissionais que se impõem aos Estados, às empresas e aos cidadãos.
Um comentário:
Excelente blog e obrigado por ter ligado o meu Inteligência Competitiva, também já fiz link para o meu blog.
Boa escrita.
André Nunes
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