sábado, 29 de agosto de 2009

Importância da Inteligência Estratégica, papel do Estado e formação profissional - Chat com Alain Juillet

Alain Juillet, até há alguns meses atrás “Alto Responsável pela Inteligência Econômica do Governo Frances”, participou de um chat a respeito do tema. Transcrevo abaixo algumas de suas observações. Vale dizer que o termo inteligência econômica é aqui utilizado como equivalente a inteligência estratégica, por vezes entendido também como inteligência competitiva. Alain Juillet aborda aspectos e visões importantes do papel da Inteligência Estratégica para o Estado, para as empresas e para o cidadão. Entende que é uma atividade fundamental e em grande desenvolvimento. Alain Juillet abordou em particular o tema formação de profissionais na área de Inteligência. Um número cada vez maior de empresas e seus responsáveis de RH tem se preocupado com a atividade. Destaca que é uma atividade vasta e que é possível identificar nada menos que 12 tipos diferentes de especialização em IE. (Vale aqui abrir um parênteses: algumas organizações e instituições de ensino, pouco informadas a respeito da área, têm dificuldade em perceber a diversidade do tema vêem de maneira pequena o conceito de Inteligência como sendo uma estreita atividade ligada ao monitoramento de mercado, vendo apenas a atividade de monitoramento da concorrência ou algo próximo disto).

Alain Juillet discute sobre formação na área e destaca que o número de especialistas em IE na França é reduzido. Vale dizer o mesmo sobre o Brasil.

Finalizo este texto, citando alguns trechos do relatório oficial do deputado Bernard Carayon, que se preocupa em definir a atividade de Inteligência Estratégica como uma preocupação de Estado. É interessante ler como ele define Inteligência Econômica, seus princípios e seu papel para a economia.

Conversa realizada por chat com Alain Juillet em fevereiro de 2009, (Blog Les Echos).

JeanChristophe : Bom dia Sr. ALAIN JUILLET, durante uma conversa com um executivo da diretoria de RH de um grande grupo frances, posicionado no mercado parisiense, eu o ouvi dizer: “a inteligência econômica não conheço, não faz parte de nossas preocupações”. Como o senhor pensa que pessoas efetuando formações em inteligência econômica e querendo trabalhar em grandes grupos franceses a fim de salvaguardar um patrimônio econômico razoavelmente frágil e abordado por grupos estrangeiros, possam estar motivados a trabalhar neste ramo de atividade, uma vez que outras atividades são mais demandadas?

Alain Juillet : Cada vez mais, responsáveis de RH conhecem o conceito de inteligência econômica, mas ainda há bastante trabalho de sensibilização a fazer. Ainda não é a preocupação de certos grupos, mas já é a preocupação de todos os escritórios de advocacia comercial americanos. Felizmente, muitos grupos de empresas francesas tem esta preocupação.

bob : Na sua opinião, algo mudou de maneira significativa em termos de IE na França depois de 2004? O senhor considera ter recursos necessários para sua atividade? O senhor é capaz de fornecer um exemplo de sucesso obtido recentemente graças ao processo de IE na França? (“aqui faz-se referência a um relatório oficial enviado ao Primeiro Ministro Francês pelo deputado Bernard Carayon. Abaixo resumo as idéias deste relatório).

Alain Juillet : Sim, o fato de introduzir políticas públicas de inteligência econômica (relatório “Bernard Carayon”), fez com que esta atividade ficasse conhecida de muitos dos nossos cidadãos e permitiu o desenvolvimento e utilização das técnicas por um bom número de empresas. Os franceses sabem mais e mais a que estas técnicas dizem respeito. Nossa satisfação vem quando pequenas empresas nos agradecem por termos lhes ajudado a se desenvolver. Exemplos de sucesso vão desde as rendas de Calais ao decreto sobre investimentos estrangeiros que nos fornecem meios negociar.

Pierre-Olivier Dybman : Sou atualmente estudante da Ecole Centrale d'Electronique e gostaria de me especializa em IE, mas surgem muitos obstáculos. Qual formação seguir? Entre a Escola de Guerra Econômica, as faculdades ou um diploma de engenheiro et desenvolver a carreira em direção a IE. O que o senhor faria no meu lugar?

Alain Juillet : IE é uma atividade nova na França. Não é um fenômeno de moda pois a atividade funciona muito bem em outros lugares. O problema é que nós estamos em fase de desenvolvimento do conceito. A não ser as grandes empresas, não o utilizam realmente. O número de especialistas é ainda reduzido, mesmo aumentado a cada ano. Por outro lado existe uma verdadeira demanda por alunos formados em outras áreas que são complementadas por uma formação em IE. É preciso também saber que a mais de 12 especializações identificadas em IE. As escolas adicionam a uma formação geral um complemento específico para se diferenciar. É preciso então escolher sua escola em função de sua especialização.


Relatório Inteligência Econômica, competitividade e coesão social, relatório ao Primeiro Ministro do deputado Bernard Carayon (La Documentation Française, Paris, janvier 2003)

Destaca a atividade de Inteligência Econômica como sendo “uma política pública de competitividade, de segurança econômica, de influência junto a organizações internacionais e de formação. Ela procede por um quadro de leitura original da mundialização que leva em conta o cotidiano, a vida dos mercados, o conjunto de suas regras, os jogos de poder e de influência". A inteligência econômica é uma “política pública de identificação de setores e tecnologias estratégicas, de organização da convergência de interesses entre a esfera pública e a esfera privada”, segundo o deputado. É uma atividade definida por um conteúdo e por um campo de aplicação. O conteúdo visa a segurança econômica. Deve definir atividades que devem ser protegidas e os meios que se deve colocar para este fim. Ela determina como acompanhar as empresas no mercado mundial, como se apoiar sobre as organizações internacionais onde são hoje elaboradas as regras jurídicas e as normas profissionais que se impõem aos Estados, às empresas e aos cidadãos.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

R2IE Revue Internationale d'Intelligence Economique

Foi lançada uma revista francesa acadêmica sobre inteligência. Parece que vale à pena, para quem lê frances. http://r2ie.fr.nf/parutions.html

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Inteligencia Coletiva - Pessoas e o sucesso do processo de Inteligência

Um tema rico e complexo. A primeira questão que se apresenta é como a Internet vai enriquecer o processo de inteligência coletiva. É o que chama a atenção de Pierre Levy, filosofo preocupado com o assunto e que fez algumas conferencias no Brasil estes dias. Segundo ele, "inteligência coletiva é uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva de competências". É um misto de conhecimento tácito, comunicação entre indivíduos, resulta em ações ("mobilização efetiva de competências"), que é o que interessa às organizações. Agir a partir de seus objetivos estabelecidos. Pode significar outras coisas em outros contextos, mas não é o que mais interessa à organização. Pierre Levy interessa-se ao assunto muito mais do ponto de vista social, de comportamento e consequências sociais.

Às empresas interessa o assunto do ponto de vista de aproveitamento do conhecimento e da inteligência coletiva para obtenção de resultados efetivos para o negócio. Segundo o próprio Levy, a Internet ou a tecnologia de informação atual ainda está longe de gerar as consequências importantes do ponto de vista de expansão do potencial que tem para a evolução da inteligência coletiva. Em grande medida em razão da barreira do idioma, atesta. No âmbito global, as pessoas ainda não se comunicam naturalmente umas com as outras em razão da dificuldade com as linguas estrangeiras. Não é suficiente pensar que o inglês resolve o problema de comunicação entre as pessoas. O que se coloca na internet está em diversas e diferentes linguas. E os tradutores ainda não são verdadeiramente eficientes. E as pessoas nem sempre estão à vontade com o inglês. Ainda que se esforcem.

Mas penso em como ocorre o processo de inteligência coletiva em uma organização, deixando-se de lado barreiras linguisticas, e supondo-se que conseguiram adotar um idioma comum. A inteligência coletiva se constroi a partir da comunicação e troca entre os integrantes da organização e o desafio é fazer como as novas tecnologias possam contribuir com o enriquecimento e eficácia da inteligência coletiva. Sejamos claros. Como as empresas usam (ou poderiam usar) certas tecnologias como ferramentas wiki ou outras para trocar conhecimento e gerar inteligência coletiva? Tive uma pequena experiência, quando usei no curso de Doutorado que ministro na FEA - Administração da Informação e Inteligência da Empresa em sua quarta versão. Os alunos deveriam produzir papers acadêmicos sobre o assunto inteligência. Solicitei que a elaboração dos papers fosse feita usando-se uma ferramenta wiki (www.pbwiki,com), onde todos pudessem ver a evolução dos trabalhos dos diferentes grupos, fazer sugestões e aprender uns com os outros. Resultado: Dentre os aproximadamente 10 artigos gerados, dois ganharam premio no congresso do SEMEAD em 2008 e foram publicados em revistas (um deles está no site www.advsbrasil.com.br - MONITORAMENTO ESTRATÉGICO ANTECIPATIVO: A GUERRA DE PADRÕES ENTRE O BLU-RAY E O HD-DVD). Minha hipótese é de que o compartilhamento do conhecimento gerou um processo que enriqueceu o conhecimento e a competência de cada um e portanto melhores resultados. Sucesso absoluto? Não. Busquei fazer a mesma experiência com alunos da pós em Inteligência Estratégica que coordeno (veja programa no site www.fipe.org.br). Resultado: Os alunos não se dispuseram a compartilhar seu conhecimento, seus trabalhos. Mais competitivos, longe dos objetivos mais acadêmicos de compartilhamento do conhecimento, que foi o caso dos alunos de doutorado? Possível. O que indica mais uma vez que a ferramenta pode estar disponível. Mas o uso dela, de maneira eficaz, depende de outros aspectos que vão além da ferramenta. Outra vez pessoas é o fator crítico para o sucesso de um processo de inteligência. Como efetivamente levar as pessoas à participação na contrução da inteligência coletiva em uma organização ? Algumas idéias estão tambem no artigo (ALMEIDA, F. C. (2009) - People: a Critical Success Factor in the Brazilian CI Process. Competitive Intelligence Magazine, may. - jun., pp.13-19.) que está também no site www.advsbrasil.com.br.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Inteligência Competitiva ou de Mercado. É a mesma coisa?

Alguém me perguntou se há diferença entre os termos Inteligência Competitiva e Inteligência de Mercado. A verdade é que surgiu uma série de termos associados à palavra inteligência e associados a certos tipos de atividades nas empresas. Os termos são muitos: Inteligência Competitiva, Inteligência de Mercado, Inteligência Econômica, Inteligência de Negócios (também se usam o termo em inglês, Business Intelligence, Inteligência Estratégica ou Monitoramento Estratégico.

Não se pode dizer se é a mesma coisa ou são coisas diferentes, de antemão, pois o que se nota é que as empresas prestadoras de serviços, adotam um ou outro nome, visando destacar seus serviços. Sendo assim, duas empresas diferentes podem usar o mesmo termo, mas com significados diferentes. O que passa a importar então, é como é definido o termo por quem o está usando, o que está por trás dos nomes. Ou seja, se uma empresa ou curso, disser que oference serviços ou treinamentos em Inteligência Competitiva, é preciso perguntar: “E o que vocês entendem por inteligência competitiva?” “Qual a abrangência do conceito que usam?” Alguns estarão mais focados no que Michael Porter chama de Inteligência do Competidor, olhando para o posicionamento da concorrência, clientes, fornecedores, enfim, as 5 forças de Porter. Outros vão mais além, buscando entender o ambiente competitivo de maneira mais abrangente. É o caso da abordagem que se vê muitas vezes chamada de Inteligência Estratégica, que busca entender não só o mercado, mas ir olhar de maneira mais ampla o ambiente competitivo. Leva em conta que este vai além do mercado, da concorrência, e do posicionamento atual. Mas como são termos genéricos, não importa o nome que se dê, tem que entender o que está por trás do nome que se está usando. De maneira geral, tem-se percebido cada vez mais que não é suficiente, como tenho destacado muitas vezes, ter a visão do tipo Porter e olhar somente o posicionamento atual da empresa que se está observando, e estar restrito ao mercado. É preciso ter uma visão mais ampla. Então independente de como se chame o serviço prestado ou o curso oferecido (Inteligência XXXX), cada vez mais tem-se falado em cenários prospectivos, visão de futuro, tendências e antecipação, não importa o termo que se use. No entanto, um aspecto que é alcança razoável consenso na área, é que os processos de inteligência, são processos que monitoram e apoiam a tomada de decisão a partir de informações que vem de fora da empresa, para dentro. Diferem-se dos processos que tratam informações que são geradas pela empresa e usadas por ela mesma ou das informações que são geradas pela empresa e enviadas para fora (ver artigo LESCA, H.; ALMEIDA, F. C. (1994) - Administração Estratégica da Informação. em http://www.vsbrasil.com.br/publicacoes.htm). O único termo que frequentemente tem sido usado para definir um processo distinto, é o termo Business Intelligence, que na verdade está mais preocupado, segundo a definição mais frequente, com modelagens de dados, estruturação de bases de dados, data mining, etc. (sugiro ver o programa no site http://www.fia.com.br/portalfia/Default.aspx?idPagina=7114, cujo tema Inteligência de Negócios é abordado pelo Prof. Sérgio Assis da FEA/USP).

Finalmente, eu diria que a discussão sobre os processos de inteligência é muito vasta e rica e não importa o nome que se use, ainda que seja o mesmo, diferentes aspectos interessantes podem estar por trás do termo e do que ele representa para quem o está usando. Nas postagens que fiz em 16 de fevereiro, extendo mais a discussão sobre Monitoramento Estratégico e Inteligência Econômica.

Fernando de Almeida

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Curso de Pós em Inteligência Competitiva na Fipe - MBA

O MBA Inteligência Estratégica, Competitiva e Econômica da Fipe (www.fipe.org.br), tem o objetivo de discutir e ensinar as práticas de inteligência pelas empresas. A proposta é criar a partir deste curso, um Forum de discussão sobre esta prática. Porque Estratégica, Competitiva e Econômica? Um processo de inteligência deve ser um processo amplo que explora aspectos de Mercado, tema abordado no curso. Deve observar concorrentes, clientes, fornecedores. Mas deve ir além do mercado, estar atento também a outros movimentos do ambiente competitivo. É um processo que tem orientação estratégica, de curso e longo prazo. É um processo que deve estar atento a movimentos que vão além dos agentes do mercado onde a empresa atua, buscando entender outros mercados que possam impactar na atividade da empresa, buscando antecipar novos entrantes, novas tecnologias. Mas deve ter também uma preocupação com o ambiente econômico, estar atento a movimentos da economia, movimentos políticos, nacionais e internacionais. Por exemplo, uma empresa que produz cervejas, deve estar atenta a mudanças na legislação que possam impactar seu negócio. Uma empresa que produz equipamentos para energia elétrica, como por exemplo turbinas de hidro-elétricas, deve estar atenta a decisões do governo que possam ser favoráveis à produção de energia a partir de hidro-elétricas.

O curso não tem enfase em aspectos econômicos, de mercado, ou estratégico. Aborda todos esses aspectos, tal como deve abordar uma empresa preocupada em desenvolver atividades de inteligência. Veja o progama do curso no site: http://www.fipe.org.br/web/index.asp?c=2&crs=97&aspx=/web/cursos/turma.aspx

Faça comentários sobre o curso aqui no Blog. Gostaria de lê-los.